segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fresta - Fernando Pessoa

Em meus momentos escuros

Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

💙

Um comentário:

  1. Sonho. Não sei quem sou neste momento.
    Durmo sentindo-me. Na hora calma
    Meu pensamento esquece o pensamento,

    Minha alma não tem alma.

    Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
    Parece que erro. Sinto que não sei.
    Nada quero nem tenho nem recordo.

    Não tenho ser nem lei.
    Lapso da consciência entre ilusões,
    Fantasmas me limitam e me contêm.
    Dorme insciente de alheios corações,

    Coração de ninguém.

    Fernando Pessoa

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